19 de dezembro de 2012

MEIMEI - Uma Vida de Dedicação e Amor

Fonte: Revista Espiritismo e Ciência - Ano 1 - Nr.1 - Especial Meimei 

Ao longo da últimas décadas, o espírito de Meimei vem inspirando uma série de obras de amor e dedicação ao próximo, com destaque especial para a atenção com as crianças.
Rosana Felipozzi

Meimei é uma expressão familiar e íntima, adotada pelo casal Arnaldo Rocha e Irma de Castro a partir da leitura da revista Momentos de Pequim, na qual encontraram referências ao livro de um autor americano que descrevia uma personagem Meimei.
Em chinês, Meimei significa "amor puro". Para Arnaldo, seu grande amor, significava a "bem-amada", "noiva querida". Era um apelido íntimo, utilizado apenas pelos dois. Mas após seu desencarne, ela começou a usá-lo na assinatura de suas psicografias, através de Chico Xavier.
Irma de Castro, a Meimei, nasceu em 22 de outubro de 1922, na cidade Mateus Leme, Minas Gerais. Aos 2 anos de idade, foi morar em Itaúna, Minas, com seus pais Adolfo e Mariana Castro, e  mais 4 irmãos. Ficou órfã de pai aos 5 anos de idade.
Desde criança, sua beleza física, sua inteligência, espontaneidade, alegria e espirituosidade eram os traços que determinavam sua personalidade marcante. Cursou a Escola Normal de Itaúna, porém a moléstia que sempre a perseguia desde pequena, nefrite, manifestou-se mais de uma vez enquanto cursava o 2o. ano normal. Aluna brilhante e ávida de conhecimentos, teve de abandonar os estudos muito cedo por questões de saúde. Seu apurado gosto pela leitura de bons livros burilou seu espírito e tornou-se alvo da admiração de todos.
Era um ser que irradiava luz e beleza, atraindo a atenção de quem a conhecia. Modesta, profundamente caridosa, aproximava-se dos humildes com a ajuda necessária, ou mesmo com uma palavra de estímulo a todos que conhecia.
Após um longo período de cuidados com a saúde e sentindo que a moléstia de que era portadora dava sinais de melhora, transferiu-se para Belo Horizonte na companhia de uma das irmã, Alaíde, esperando conseguir uma colocação profissional.
Foi nessa época que Meimei conheceu Arnaldo Rocha, com quem se casou. Viveram um lindo romance, que durou apenas dois anos. Sua doença tornou-se uma insuficiência renal crônica que, por três meses seguidos, a deixou acamada. Por maiores fossem os esforços e desvelos do marido, Irma faleceu em 1 de outubro de 1946. Meimei desencarnou após um período de muito sofrimento e dor. Além da nefrite e as consequências da doença, ela chegou a perder a visão.
Seu espírito, já bastante esclarecido, começou a se manifestar através de mensagens psicografadas por Francisco Cândido Xavier, com a missão de esclarecimento e consolo, organizadas em várias obras mediúnicas espalhadas por todo o Brasil e até mesmo pelo mundo.
Seu nome, agora tão venerado como um espírito de luz, carinhosamente dado em vida por seu marido, é até hoje enaltecido, inspirando e denominando lares, abrigos e creches.
Uma cena interessante da vida de Meimei ocorreu no dia de seu casamento. Eles tinham acabado de se casar na Igreja São José, em Belo Horizonte, quando um mendigo apareceu à porta, maltrapilho, sujo, cheirando mal. Aproximando-se dela pediu: "Moça, me dá uma esmola". Arnaldo puxou-a delicadamente e disse: "Mas agora? Nós estamos terminando de nos casar!". Meimei porém, aproximou-se e explicou: "Moço, eu nada tenho no momento. Nem bolsa eu tenho. A única coisa que lhe posso dar é um beijo." E o abraçou e beijou.
Este é um dos dados desconhecidos da vida de Meimei, revelados por Arnaldo Rocha e Patrícia Marcelino, coordenadora do Grupo de Teatro da Federação Espírita do Estado de São Paulo e Grupo de Teatro Vida Nova, do Instituto Fraternal de Laborterapia, durante a montagem de uma peça teatral sobre a vida de Meimei, encenada em 1991.

Meimei era católica fervorosa; ia à missa regularmente e rezava o terço. Foi crismada num local chamado Olinda, perto de Mateus Leme, quando tinha quatro anos. Nessa época, recebeu o apelido de Nana, dado pelo padre da cidade, que a achava uma criança divina e iluminada.
A família de Meimei era católica. A de Arnaldo Rocha era espírita, mas ele era ateu, radical e convicto, tendo se convertido ao Espiritismo muito tempo depois.
A ligação de Meimei com as crianças é muito forte. Quando encarnada, ela adorava crianças, e seu maior desejo era o de ser mãe. No entanto, seu sonho não foi concretizado, não só porque o casamento, aos 22 anos de idade, durou apenas dois anos, mas especialmente pelo agravamento de sua doença, a nefrite crônica, acompanhada de pressão alta e necrose nos rins.
Ainda assim, com seu sonho de amor realizado com o casamento com Arnaldo, Meimei tinha um filho imaginário. Diz-se que, quando Arnaldo chegava do trabalho e sentava-se ao seu lado, ela lhe dizia: "Meu bem, você está sentado em cima de meu principezinho."
No dia-a-dia, conta-se que toda criança que passava por ela recebia o cumprimento "Deus te abençoe".
A perda de seu grande amor abalou imensamente Arnaldo Rocha. Cerca de cinquenta dias após o desencarne de Meimei, ele estava em Belo Horizonte em companhia do irmão, Orlando, que, ao contrário dele era espírita. Eles avistaram Chico Xavier e, segundo conta a história, o que aconteceu naquele momento mudou completamente a vida de Arnaldo.
"Chico olhou-me", narrou Arnaldo, "e disse: 'Ora, gente, é o nosso Araldo. Está triste, magro, cheio de saudades da querida Meimei.' Afagando-me com a ternura que lhe é própria, foi me dizendo: Deixe-me ver, meu filho, o retrato de nossa Meimei, que você guarda na carteira."

Arnaldo lhe mostrou a foto, curioso em saber como o médium poderia conhecer o apelido de sua esposa. Chico observou e disse que "nossa querida princesa Meimei" queria muito falar com ele. Dessa forma, naquela noite foi realizada uma reunião na casa de uns amigos espíritas, e Meimei deixou sua primeira mensagem psicografada.
Posteriormente, Chico revelou aos amigos mais chegados que Meimei era a mesma Blandina, citada por André Luiz na obra Entre  a Terra e o Céu, que morava na cidade espiritual Nosso Lar. Também é a mesma Balndina, filha de Taciano e Helena, que Emmanuel descreve no romance Ave Cristo.
Seu grande sonho de "ter a casa cheia de crianças" não foi concretizado, mas na vida espiritual ele se tornou possível. No livro citado, de André Luiz, nos capítulos 9 e 10, surgem relatos das atividades de Blandina - o nome que Meimei recebeu ao regressar à Pátria Espiritual.
Lá, além de cuidar de crianças, também cuida de enfermos, encarnados e desencarnados, aos quais se dedica sob a orientação de Frei Pedro de Alcântara.
Ao se aproximar do Espiritismo, Arnaldo foi alertado pelo espírito Emmanuel, por meio de Chico Xavier, para se dedicar a tarefas de assistência aos irmãos menos felizes e perturbados. Após dois anos de estudos e preparo, Arnaldo decidiu iniciar o grupo que foi denominado Meimei.
Desde então, inúmeros médiuns têm relatado a participação do espírito de Meimei, que muitas vezes é vista vestida de noiva, deixando no ambiente onde se manifesta um aroma de flores.

A história da formação do grupo é contada por Arnaldo no prefácio do livro Instruções Psicofônicas (1956). Uma das mensagens contidas no livro, chamada Em Busca do Mestre, foi recebida na noite de 18 de março de 1954, trazia ensinamentos de Meimei, em forma de poema evangélico. 
A mensagem é a seguinte: "Aos ouvidos da alma atormentada, que lhe pedia a comunhão com Jesus, respondeu generoso, o mensageiro celestial: Sim, em verdade reconheces no Cristo o Senhor, mas não te dispões a servi-lo... Chamas por ele, como sendo a Suma Compaixão, todavia, ainda te acomodas com a maldade...
Não te canses de anunciá-lo por luz dos séculos, entretanto, não te afastas da sombra...
Dizes que ele é o Amor Infinito, mas ainda te comprazes na agressividade e no ódio...
Afirmas aceitá-lo por Príncipe da Paz e não vacilas em favorecer a discórdia...
Contudo - suplicou a alma em pranto - tenho fome de consolo, no aflitivo caminho em que se me alongam as provações... Que fazer para encontrar-lhe a presença Redentora!!!
Volta ao combate pela vitória do bem e não desfaleças! - acrescentou o emissário celeste - Ele é teu mestre, a terra é tua escola, o corpo de carne a tua ferramenta e a luta nossa sublime oportunidade de aprender.
Se já lhe recolheste a lição, sê um traço D Ele, cada dia... Ama sempre, ainda que a fogueira da perseguição te elimine a esperança, estende os braços ao próximo, sem esmorecer, ainda que o fel das circunstâncias adversas te envenene a taça de solidariedade e carinho...
Sê um raio de luz nas trevas e a mão abnegada que insiste no socorro fraternal, ainda mesmo nos lugares e nas situações em que os outros hajam desistido de auxiliar... Vai! esquece-te e ajuda no silêncio, assim como no silêncio recolhes dele o alento de cada instante! Não pretendas improvisar e nem esperes partilhar-lhe, de imediato, a glória sublime! Ouve! basta que sejas um traço do Senhor, onde estiveres!
Aos olhos da alma supliciada desapareceu a figura do excelso dispensador dos talentos eternos.
Viu-se, de novo, religada ao corpo, sob desalento inexprimível...
Contudo, ergueu-se, enxugou os olhos doridos e, calando-se procurou ser um traço do Mestre cada dia.
Correu, célere, o tempo.
Amou, tolerou, sofreu e engrandeceu-se...
O mundo feriu-a de mil modos, os invernos da experiência, enrugaram-lhe a face e pratearam-lhe os cabelos, mas um momento surgiu em que os traços do Mestre como que se lhe gravaram no íntimo...
Viu Jesus, com todo o esplendor de sua beleza, no espelho da própria mente, no entanto, não dispunha de palavras para transmitir aos outros qualquer notícia do Divino Milagre.
Sabia tão somente que transportava no coração as estrelas da alegria e os tesouros do amor."